“O preço do progresso:Atravessei o
rio amazonas vindo de Alenquer com minha família e desembarquei em
Santarém numa bela manhã ensolarada. O ano era 1969 e essa era a
primeira vez que pisava na areia branca do Tapajós. Rapidamente me
acostumei a contemplar e tomar banho no rio juntamente com a molecada do
bairro. O desafio era ver quem nadava e chegava primeiro na coroa de
areia, onde disputávamos uma bela partida de futebol. Nossa chegada a
Santarém coincidiu com a vinda do 8 BEC para a cidade, o discurso era de
que com a chegada do Bec viria também o desenvolvimento para a região.
Esse desenvolvimento, de fato começou, deu-se início com a construção do
cais de arrimo e, ao final da obra, tínhamos um cais bonito na frente
da cidade e perdemos a ” Coroa de Areia”, uma bela praia que nascia em
frente ao prédio da marinha e avançava rio a dentro. O “progresso”
precisava continuar, pois o governo federal temia uma invasão
estrangeira na amazônia. Com o slogam “integrar para não entregar”,
rasgou-se a floresta e se construiu as BRs- 163 e a Transamazônica.
Ainda era pouco pois nossa produção seria tanta que precisávamos de um
porto para escoar a produção. Em pouco tempo a Cia. Docas do Pará
construiu o cais do porto e, perdemos a praia da Vera Paz. Mas o
“progresso” não para, o tempo urge e temos que continuar crescendo. Constrói-se então um aeroporto internacional e com ele vai junto a praia
da Maria José, uma das mais belas praias que por estas bandas existiu.
Agora, novamente somos chamados a contribuir com o país, afinal, energia
é sinônimo de desenvolvimento e o Brasil precisa crescer. Em pouco
tempo teremos a construção de 5 usinas hidrelétricas no Tapajós e com
elas, provavelmente, perderemos nosso azul do rio Tapajós. Azul que já
inspirou os poetas, fonte de encanto e orgulho de todos nós. E não é só,
a morte do rio é também a morte das praias do Pajucara, Carapanari,
Ponta de Pedras, Alter do Chão, e tantas outras. É a perda também da
nossa identidade. Agora fica a pergunta: Qual o legado que deixaremos
para as futuras gerações? Seremos reconhecidos como a geração que usou o
meio ambiente de forma sustentável, preservando as praias, rios e
florestas?ou seremos acusados de omissão covarde, uma vez que assistimos
a degradação de tudo e nada fizemos? Em nome do futuro dos meus netos,
Leonardo, Bernardo e Catarina e das gerações futuras eu digo NÃO a esse
“progresso”, eu digo NÃO as hidrelétricas do Tapajós ”.