segunda-feira, 11 de abril de 2016

Doentes transportados como cargas no porto da Tiradentes

Flagrante do momento em que um doente era retirado de uma embarcação


Passageiro sendo transportado de uma embarcação
Passageiro doente sendo transportado de uma embarcação
A situação que seria considerada como absurda, já virou rotina no Porto da Praça Tiradentes, em Santarém, oeste do Pará. As pessoas que chegam de outros municípios e até mesmo de localidades ao redor da cidade, via fluvial, são transportadas como cargas, sem qualquer estrutura.
Apesar de todo esforço e boa vontade dos membros da equipe de remoção do SAMU, mesmo assim torna-se difícil a locomoção dos pacientes. Uma tarefa que requer esforço sobrenatural. Não é nada fácil transportar uma pessoa que necessita de cuidados médicos imediatos, em muitos casos até fatais, em meio a cargas, carros e pessoas embarcando e desembarcando no porto improvisado.
Mais um belo exemplo do que pode acontecer, quando o poder púbico abandona um dos centros econômicos mais importantes e cartão postal da Pérola do Tapajós, que por conta desse descaso já está perdendo seu brilho.
Trabalhadores que atuam no Porto da Praça Tiradentes informaram à reportagem que essa situação acontece todos os dias, pois Santarém atende os doentes que chegam de várias partes da região. “Às vezes, muitas dessas pessoas quando chegam no porto, já estão mortas, pois o caso da doença é bastante sério e deveriam ser transportadas de lancha ou avião, mas vêm de barco, que demora muito”, disse o carregador Aranha, que trabalha no porto há mais de 15 anos.
O carregador conhecido por “China” também falou da situação em que essas pessoas são transportadas. “Trabalho há quase 20 anos no porto e já vi de tudo. Já teve doentes que estavam sendo transportados em macas que caíram no rio. Isso quase sempre acontece, pois a estrutura é péssima, sem qualquer condições. Nossas autoridades devem olhar com mais atenção para esse lado, pois não são mercadorias que estão sendo transportadas e sim vidas humanas. O Ministério Público deve agir e punir os responsáveis por este descaso com as pessoas”, declarou o carregador.
CARREGADORES ESTÃO SENDO PREJUDICADOS POR FISCAIS DA PREFEITURA: “Não são todos, mas tem alguns que tratam a gente com grosseria”, o desabafo foi feito por um dos líderes dos carregadores que usam carrinhos para transportar cargas, no porto da Praça Tiradentes, em Santarém. São 36 associados, mesmo assim existem os carrinhos avulsos.
Em conversa com nossa equipe de reportagem, ele reclamou da precariedade em que são obrigados a trabalhar. “Nossa situação é muito crítica, muito crítica mesmo”, falou Jose Raimundo Mota, destacando que desde 1997, quando saíram da Vera Paz, o problema surgiu. “Nós acompanhamos a situação do porto, até agora improvisado. Como se não bastasse a crise em que atravessam, por conta do pouco movimento, eles ainda tem que conviver com o abuso de alguns dos fiscais que atuam no porto. “Tem dias em que os fiscais estão com bom senso, outros dias não deixam a gente subir com mercadoria”, disse José Raimundo Mota. Eles pedem que os fiscais sejam mais sensíveis.
Por sua vez, o chefe dos fiscais da balsa do porto da Praça Tiradentes, Izonilton dos Reis Sousa, se defendeu das críticas feitas pelo líder dos transportadores de cargas, uma tarefa na maioria das vezes não é observada pelos transportadores de cargas. Uma das medidas tomadas pelos fiscais da balsa é permitir que os carrinhos com mercadorias entrem de quatro em quatro, na balsa. “Se isso não for feito, a balsa vai ficar sem condições de trafegabilidade. Imagine um lugar onde tem gente embarcando e desembarcando junto com cargas, e ainda por cima cheia de carrinhos com mercadorias, não tem condições”, assinalou Izonilton Reis.
Fato é que o problema vai persistir, até que as balsas deixem de operar de improviso, dando lugar a um porto digno. Do jeito que está, é uma vergonha. Um Município que pode servir como entreposto de mercadorias não ter um local digno para carga e descarga de barcos e passageiros, é uma vergonha.
Por: Carlos Cruz
Fonte: RG 15/O Impacto