Simbologia e arte nas culturas
Marajoara e Tapajônica
Apesar de ter havido quase que um saque arqueológico na
Amazônia, esta continua sendo uma
região onde muitos mistérios ainda persistem resistindo ao
tempo. A rica arte ceramista dos
povos desaparecidos da ilha de Marajó e de Santarém, próximo
à foz do rio tapajós é
testemunho vivo de que algo de muito importante aconteceu
naquele estranho mundo
selvático, que não foi ainda totalmente compreendido
pelos pesquisadores.
Por J. A. FONSECA*
De Barra do
Garças/MT
Para
Via Fanzine
Vaso
em formato cilíndrico, pintado em vermelho e
trabalhado pelo método de excisão da cultura Marajoara.
A ARTE
MARAJOARA
Arte
e bom-gosto -
As mais
esplêndidas cerâmicas Marajoaras que sobreviveram ao inexorável passar do
tempo e à corrida especulativa de mercadores da arqueologia não se encontram
sob a guarda de organismos culturais no Brasil, mas, estranhamente, em
museus europeus e norte-americanos. As peças remanescentes desta arte
excepcional foram encontradas mais recentemente e catalogadas pelo
pesquisador suíço Emílio Goeldi, a serviço do governo brasileiro. Estão
depositadas no museu arqueológico de Belém, que recebeu o nome deste notável
pesquisador.
Se
observarmos com cuidado a rica cerâmica Marajoara, suspeitaremos que ela
tenta registrar vários arquétipos de formas originais, muito antigas, que se
perderam no decorrer do tempo, podendo estar relacionadas não somente a
cultos destes povos, mas também a uma linguagem desconhecida usada por seus
ancestrais. É notório, como podemos ver nas ilustrações, que esses povos
detiveram um grande conhecimento que foi, no decorrer do tempo, misteriosa e
gradativamente, sendo diluído nas brumas do esquecimento pelos seus próprios
descendentes.
Suspeita-se que até mesmo a rica mitologia dos indígenas norte-americanos
tenha exercido influências na cultura desses povos e na vasta simbologia e
arte aprimorada em cerâmica que deixaram para trás antes de desaparecerem. A
aplicação de cores, inclusive, é algo em destaque em sua cultura. Em geral
estes se utilizavam das cores vermelha e preta para decorar suas variadas
peças: a primeira delas retirada do urucum e a segunda, do genipapo ou do
carvão vegetal, segundo os pesquisadores.
Através
de datações pelo método C-14 os arqueólogos chegaram a propor que a cultura
Marajoara teria surgido por volta do ano de 1.100 a.C. Estas conclusões
foram emitidas pelo professor Mário F. Simões e sua equipe, pertencente ao
Museu Emílio Goeldi de Belém, Pará.
Mistérios ilhados -
É
estranho que a Ilha de Marajó, onde esta raça se desenvolveu, não possui
quase nenhum relevo e está a cerca de apenas 100m acima do nível do mar.
Porém, foi neste território que foram encontrados restos deste povo antigo,
que pela variedade e sofisticação de seu método de vida, ofereceram aos
pesquisadores elementos para os classificarem em um nível bem elevado junto
às culturas mais antigas, especialmente entre as pré-colombianas da América
Central e Andina.
Suas
aldeias eram construídas sobre aterros que chegavam a ter de 3 a 12m de
altura e cerca de 250m de comprimento por 30m de largura que, eles elevavam
para se protegerem das cheias, comuns na Ilha de Marajó.
Os
primeiros arqueólogos que exploraram esta região foram Carl Friederick
Phillip von Martius, em 1867, Ferreira Pena, em 1870, W. S. Barnard, em 1870
e Orville A. Derby, em 1876. Antes da cultura marajoara que surgiu de
maneira súbita, foram detectados pelos pesquisados, outras culturas
inferiores, mas que jamais poderiam se comparar com sua forma de vida e
arte, que vem até hoje admirando o mundo inteiro. Isto pode ser observado na
sua tradicional arte cerâmica: na decoração de seus objetos de uso, na
uniformidade de suas formas e tamanhos, e habilidade na execução de suas
incisões e excisões, produzindo um conjunto harmonioso e simbólico, além de
belo.
Tigela
decorada Marajoara
Porém,
somente em 1871 é que começou a ser mostrada para o mundo a cultura desse
povo antigo, quando o pesquisador norte-americano Charles Frederick Hartt,
em contato com o brasileiro Domingos Soares Ferreira Penna, tomou
conhecimento de algumas peças de sua rica arte em cerâmica. Hartt publicou
um artigo sobre esta cultura nos EUA e este fato, desencadeou uma verdadeira
corrida àquela região do Brasil, passando a ser brutalmente saqueada em
centenas de peças de arte, por leigos, aventureiros, comerciantes e
pesquisadores de várias partes do mundo. Consta que, ao ser notificado
desses acontecimentos o então imperador brasileiro D. Pedro II determinou a
interdição da Ilha de Marajó aos estrangeiros e que toda pesquisa só poderia
ser feita com autorização do governo do Império do Brasil. Tal atitude, se
não resolveu definitivamente os problemas dos saques, pelo menos reduziu-os
bastante.
Em 1957
os arqueólogos Cliford D. Evans e Betty J. Meggers, estudando a cultura de
Marajó, estimaram a duração de sua fase completa entre os anos de 1350 e
1450 d.C. Entretanto, pesquisas realizadas na Amazônia posteriormente têm
revelado que aquela região já teria sido habitada por povos muito antigos e
alguns deles bem mais avançados do que os indígenas que aqui foram
encontrados quando da descoberta do Brasil. Estudando a seqüência
arqueológica dos povos de Marajó iremos encontrar uma série de culturas
independentes, sem relação umas com as outras, que da mesma forma que
apareciam, também desapareciam, deixando apenas como vestígios de sua
presença, restos artísticos em cerâmica.
Os
arqueólogos acreditam que esta cultura tenha vindo de outra região e se
instalado na Ilha de Marajó com seu povo numeroso, para em seguida
desenvolverem-se espetacularmente, tanto em relação ao aumento populacional,
quanto no aspecto social e artístico. Por isto, estes insistem na tentativa
de encontrar maiores traços dessa notável cultura, apesar da escassez de
elementos que possam dar suporte às suas conclusões e elucidação de sua
vasta simbologia. Sabemos que é preciso ter paciência diante desta
perspectiva de assustadora complexidade para compreender o por quê de seu
desaparecimento. Porém, não devemos inibir idéias sob uma outra ótica a
respeito deste insólito acontecimento amazônico, que poderiam contemplar,
até mesmo, possibilidades não muito bem aceitas pelo academismo oficial.
Muitas coisas acontecem e aconteceram debaixo do sol, sem que as possamos
explicar pelos métodos exclusivos da razão. Neste caso, ousaríamos emitir a
idéia de que possuiriam um conhecimento muito antigo, anterior ao tempo dos
descobridores e que os levaram consigo, onde quer que tenham ido.
Vaso
cerimonial Marajó com decorações em relevo
Temática elaborada -
Em toda a
sua variada produção, além da sofisticação decorativa, temos uma coleção de
objetos que poderiam muito bem ser capaz de atender a uma civilização bem
mais avançada, além de que, as decorações empregadas pelos mesmos são um
misto de símbolos conhecidos e desconhecidos. São caracteres logicamente
delineados, estilizações de objetos e animais, além de motivos antropomorfos
e zoomorfos, executados com elevado grau de elaboração e cuidado.
Apesar
desta notável característica, alguns pesquisadores afirmam que os silvícolas
faziam sua arte sem obedecer a nenhum critério; que seus arabescos eram
improvisados e engenhosamente elaborados e traçados de acordo com o que lhes
passava pela cabeça. Não podemos concordar com isto. Neste trabalho
reproduzimos algumas ilustrações de exemplares desses artistas desconhecidos
e pudemos perceber não somente a riqueza dos detalhes manipulados pelos
mesmos, como a coerência de seus traçados, as combinações de suas figuras
decorativas e a complexidade dos objetos deixados nas regiões onde viveram.
Podemos também perceber, pela comparação de sua arte decorativa, que muitas
destas formas geométricas coincidem entre si, além de que uma vasta
simbologia encontra-se gravada permanentemente junto de figuras estilizadas
de animais e de homens, formando um conjunto harmonioso e levando-nos a
supor que poderiam se tratar de algo mais do que simples decorações.
Um dos
aspectos que mais diferenciam a arte ceramista de Marajó das demais,
inclusive, a tapajônica, é o da elaboração de tangas côncavas, que segundo
alguns eram utilizadas nos funerais femininos. Apesar destas peças terem
sido encontradas quase sempre em cemitérios, já se constatou que foram
usadas também em outras ocasiões, porque foram encontradas algumas peças que
tinham seus furos laterais para transpassar cordas de sustentação, com
sinais de desgaste por uso contínuo.
Antigos funerais -
Em geral,
os pesquisadores se interessam mais pelas urnas funerárias, pois estas
ajudam-nos a melhor compreender a vida social dos povos que as deixaram.
Porém, quanto à questão das tangas femininas, produzidas em cerâmica, existe
ainda algo de insólito não compreendido pelos estudiosos e sua própria
utilização não foi ainda devidamente explicada, principalmente no que se
refere à sua origem e ao seu uso. Além do mais este utensílio somente foi
encontrado na cultura marajoara, tendo sido identificados dois tipos delas:
uma simples que era somente coberta por uma tinta de cor avermelhada e outra
bem mais elaborada, que era toda pintada de branco e posteriormente decorada
com símbolos nas cores vermelha e preta. É curioso perceber que os desenhos
postos nestas tangas nunca se repetem, não se tendo encontrado ainda duas
delas com a mesma decoração.
A
cerâmica marajoara é tida como uma das mais belas e sofisticadas quando
comparada com as cerâmicas das três Américas, considerando-se suas formas
bem delineadas, seus motivos variados, sua rica simbologia e sua
versatilidade, pouco comum.
Concordamos com o pensamento de alguns que sugerem que a temática de suas
reproduções esteja relacionada a uma linguagem iconográfica, na qual são
representados seres míticos e uma vasta justaposição de formas bem
concatenadas, ora reproduzindo labirintos, espirais, figuras geométricas
variadas (círculos, retângulos, quadrados, triângulos etc.), ora tridentes e
faces estilizadas, zoomorfas e antropomorfas. Também podem ser notados
vários tipos de técnicas, cuidadosamente aplicadas, como: incisões,
excisões, pinturas, apliques, modelagens e apêndices em pratos, tigelas,
vasos e banquinhos, utilizados pelos xamãs. Pode-se dizer que existe uma
infinidade de formas diferentes nestas produções em cerâmica, destacando-se
vasilhas variadas, urnas funerárias, tangas, estatuetas, pingentes, adornos
em vários formatos e tamanhos.
Tangas
da exótica arte ceramista de Marajó, única nas culturas pré-colombianas
Dados arqueológicos -
A grande
maioria das peças marajoaras com sua variedade de formas, como já vimos, era
decorada com desenhos complexos, muitos destes destacados em relevo,
utilizando-se seus artífices do método de excisão, dificultando
significativamente seu processo de elaboração e exigindo destes muita
precisão e alto conhecimento técnico.
Suspeita-se que os povos de Marajó tenham vindo de uma outra região e que
teriam chegado àquela ilha já com o conhecimento avançado de produção de
peças de cerâmica e sua fina decoração. É curioso perceber, para não dizer
que é estranho e não justificado, que no decorrer do tempo a cultura desse
povo teve um rápido declínio, de forma que as próprias produções dos
ceramistas subseqüentes (de seus descendentes) tornaram-se mais rudimentar,
com o empobrecimento da simbologia e dos motivos decorativos que eram
amplamente aplicados pelos seus avós. Este aspecto de sua cultura causa
estranheza diante dos pesquisadores, pois se trata de um fato incomum que,
com o passar do tempo, seus descendentes foram perdendo a apurada técnica
nesta arte e involuindo gradativamente, esquecendo-se da arte de seus
antepassados.
As
pesquisas arqueológicas concluíram que as peças mais antigas destes povos
desconhecidos, além de possuírem muito mais variedades, eram bem mais
elaboradas e de conteúdo artístico bem mais acentuado. Qual teria sido a
razão desta decadência?
Afirmam
os pesquisadores que a cerâmica mais perfeita só é encontrada nos níveis
mais antigos da cultura Marajoara. Explicam que após longa e inexorável
decadência esse povo desapareceu, tendo sido finalmente absorvido pela
última fase desta magnífica cultura, remanescentes esses que viveram de
forma bem diferente da de seus avós, levando-nos a duvidar de que daqueles
sequer tivessem sido parentes. Essa cultura que se seguiu à marajoara deixou
um tipo de cerâmica simples e utilitária, sem as habilidosas decorações
encontradas nas peças mais antigas, como se tivesse sido atacado de uma
espécie de esquecimento coletivo e modo de vida indolente.
Para os
arqueólogos, o período de existência desse povo não deve ter sido maior do
que 400 anos. Da mesma forma que chegaram à Ilha de Marajó, de forma
abrupta, também saíram dali e não se sabe para onde teriam ido.
Outros
pesquisadores afirmam que as populações da Ilha de Marajó desapareceram nas
primeiras décadas, logo após a descoberta do Brasil e com a chegada dos
europeus foram dizimados por doenças, guerras e ações missionárias, deixando
para trás um vasto legado de arte em cerâmica e uma rica simbologia, traçada
com critério e conhecimento.
Outros,
ainda conjecturam que o povo marajoara desapareceu misteriosamente no século
14, pressionados pelo rápido empobrecimento do solo da região. Ao se
esgotarem, trouxeram grandes dificuldades ao manuseio da agricultura e
manutenção de sua populosa raça, fazendo com que fossem, gradativamente,
absorvidos pelos demais povos nômades e menos cultos da região.
Quando os
primeiros colonos chegaram à Ilha de Marajó encontraram ali apenas grupos
indígenas da tribo aruaque, que eram muito arredios e não possuíam a técnica
de produção de cerâmica de seus antigos moradores. Com o correr do tempo
estes indígenas também acabaram se transladando para outras regiões da
Amazônia, pelas dificuldades crescentes de sobrevivência.
A ARTE
TAPAJÔNICA
Segundo
os arqueólogos, a cultura Tapajós teve muitos momentos específicos em sua
trajetória. Em suas pesquisas, apoiadas pelo sistema de datação C-14, estes
lhe dão cerca de 500 anos de existência, localizados entre os anos de 1000 a
1500 a.C. Esses povos eram muito numerosos e habitaram diversas regiões na
foz do rio Tapajós, próximo a Santarém e assim como os de Marajó, eram
também exímios ceramistas.
Vaso de
cariátides da cultura Tapajós em cerâmica (argila e cauixi-esponja de rio),
que lhe
dão beleza e grande resistência.
Estrutura e motivos diferenciados -
Para os
estudiosos, as misturas de efeito antiplástico na cerâmica produzida por
esses povos eram incomparavelmente mais avançadas do que as que eram
utilizadas por outras culturas amazônicas. Na cerâmica de Santarém, o
antiplástico utilizado era o cauixi, uma esponja encontrada em rios de água
doce, devido à sua maleabilidade e maciez. Com esta técnica produziam uma
cerâmica de elevado grau de dureza, ao mesmo tempo que, era também
extremamente leve e fácil de manusear.
Além
disto, eram elegantemente desenvolvidas e decoradas com motivos variados. O
animal que é mais representado em suas manifestações artísticas é a cobra,
que pode ser encontrada em estilos variados, aparecendo também de forma
espiralada ou estilizada, mas sempre manipulada sob figurações plásticas
muito bem elaboradas.
Dizem os
pesquisadores, que a cerâmica de Santarém é a que mais foi produzida no
Brasil e pode ser encontrada em diversificadas localidades, às margens do
rio Tapajós, onde podem ser desenterradas. Segundo estes, os índios Tapajós
habitaram entre os rios Xingu e Tapajós, com sua cultura peculiar e
altamente produtiva. Dentre sua vasta produção encontramos taças
sofisticadas, esculturas variadas, vasos zoomorfos e ornitomorfos, figuras
de animais, pratos, tigelas, etc.
As
figuras geométricas são perenemente representadas em sua arte e suas formas
são muito variadas e excepcionalmente harmônicas, incluindo aí as gregas e
as espirais, figuras de estilos variados e reprodução de retas e ângulos
perfeitamente delineados.
Os povos
tapajônicos, apesar de serem tidos como bravos guerreiros, ficaram famosos
pela sua arte em cerâmica decorada, assim como os marajoaras. Estas artes
atraíram a atenção de pesquisadores e curiosos do mundo todo, pois, além de
serem muito leves e muito resistentes eram também muito belas e variadas.
Imensa e diversificada produção -
Estas
ricas obras de arte são, por assim dizer, os únicos vestígios da existência
deste povo valoroso no interior da floresta amazônica. A sofisticação de
suas peças, formas e de suas expressivas decorações, fazem os pesquisadores
acreditarem que, diante de tão elevada qualidade de elaboração, elas teriam
sido produzidas por gente especializada e treinada para este fim. De fato,
diante das ilustrações presentes neste artigo, reproduzidas especialmente
por este autor, podemos ter uma idéia de sua singeleza, beleza e
sofisticação estética.
Podemos
afirmar com segurança que os ceramistas da região do Tapajós chegaram a
produzir uma rica e abundante arte em peças variadas, sendo também, exímios
escultores que procuravam perenizar em suas obras a beleza e a forma,
através de figuras estilizadas e de grande conteúdo estético. Segundo os
pesquisadores esse povo não construía urnas funerárias, porque ao invés de
enterrar seus mortos preferiam homenageá-los, moendo seus ossos e
aplicando-os em bebidas que eram experimentadas por todos da tribo.
A RICA SIMBOLOGIA DESTES POVOS NA AMAZÔNIA
Face à
excepcionalidade da arte destes povos amazônicos, este autor procurou
incluir no presente trabalho algumas reproduções que ele mesmo procurou
fazer da variada cerâmica e rica simbologia de que estes eram conhecedores,
para assim melhor captar os detalhes desta produção incomparável e sentir o
grau de dificuldade na elaboração de seus traçados, quer tenham sido feitos
por intermédio de pinturas, incisões ou excisões nas peças por eles
produzidas.
Como
vimos, dois destes grupos teriam se destacado além dos demais, face à
qualidade de suas culturas: a Marajoara, na Ilha de Marajó e a Tapajônica,
da região de Santarém, às margens do rio Tapajós. Quase todos os vestígios
de sua existência já desapareceram, à exceção de sua cerâmica, que tem
revelado se tratar de uma arte originada de uma cultura de elevado grau de
sofisticação e conhecimento estético.
Símbolos
retirados da arte de Marajó
Além da
exuberância das peças Marajoaras e Tapajônicas, o fato que nos levou a
interessar-se ainda mais por essas culturas foi a riqueza de traços
geométricos, muitos deles com visíveis representações de contornos
universalmente conhecidos e uma expressividade em seus caracteres, próximos
do conceito do ideograma.
A
arqueóloga Denise Pahl Schann da PUC-RS, examinando peças marajoaras da
coleção da Universidade Federal de Santa Catarina, encontrou figuras que se
repetiam alternadamente, vindo reforçar as idéias da pesquisadora
norte-americana Anna Roosevelt que acredita ter havido na Amazônia uma
cultura bem mais avançada do que as que foram admitidas até agora. Disse a
arqueóloga brasileira que puderem ser comprovados que os 52 signos
identificados por ela representam idéias, ter-se-á evidenciado que,
cientificamente, o povo marajoara se utilizava de uma escrita primitiva em
suas expressões artísticas.
Símbolos retirados da arte Tapajônica
Vestígios de avançadas civilizações -
Não
somente as cerâmicas marajoaras e tapajônicas indicam vestígios de uma
sociedade complexa na Amazônia. Também os objetos de culto conhecidos como
muiraquitãs, encontrados em diversas regiões causam certo desconforto. Estas
peças, fabricadas em nefrita e por causa de seu grau de dificuldade ao serem
produzidas, passaram a fazer parte das lendas amazônicas, especialmente por
causa das famosas icamiabas (amazonas ou mulheres guerreiras).
Segundo a
lenda, o amuleto (masculino e feminino) era feito sob condições especiais e
sempre sob a inspiração da Lua (Iaci). Na época da lua cheia as mulheres
desta tribo mergulhavam no lago sagrado Iaci-Maruá (espelho da lua) e
retiravam do fundo deste uma espécie de argila esverdeada, com a qual
moldavam ao seu gosto objetos para presentear seus guerreiros, que vinham
acasalar com elas. Após endurecerem, estes objetos ganhavam uma consistência
muito dura e difícil de ser trabalhada, dando-lhes aspectos místicos e
misteriosos.
Como já
havíamos afirmado, as ricas artes, marajoara e tapajônica estão recheada de
símbolos variados e uma decoração estilizada que nos lembram caracteres, ou
ideogramas (sinais que exprimem idéias) ou até mesmo uma espécie de grafia
hierática, semelhante às das grandes civilizações européias.
Sob nossa
perspectiva, ousamos afirmar que, diante da variegada simbologia utilizada
por esses povos, tais representações geométricas e caracteres sofisticados
se tratem, efetivamente, de uma forma de escrita que se perdeu com o passar
do tempo ou foi por eles mesmos suprimida pouco antes de seu
desaparecimento.
Gostaria
de registrar, finalmente, que na região Amazônica desenvolveram-se apenas
três tipos de culturas que mais se destacaram pela distinção destas em
relação às demais tribos existentes no Brasil: a da Ilha de Marajó, com suas
cerâmicas decorativas, a da região de Santarém, na foz do rio Tapajós, com
sua rica coleção de peças ornamentais e utilitárias e um outro grupo, menos
conhecido, que também desenvolveu uma rica arte em cerâmica e se estabeleceu
no Amapá, às margens do rio Cunani. A cerâmica deste povo misterioso do
Amapá era produzida com o predomínio da cor vermelha aplicada sobre um fundo
branco, em peças de estilo também variado, porém menos aprimorados do que os
Marajoaras e Tapajônicos.
Foi
Emílio Goeldi, naturalista suíço que, encarregado pelo governo do Pará para
organizar um museu de ciências naquele Estado, descobriu um túmulo desta
tribo localizado próximo ao igarapé Holanda, numa fazenda da região. Lá ele
encontrou diversas peças que, apesar de semelhantes à forma, se comparadas
às outras culturas citadas, apresentavam características diferentes das
mesmas. Foram também encontradas urnas funerárias em cavernas naturais nas
proximidades do rio Cunani em datas posteriores, indicando certas
semelhanças com as que foram localizadas na Ilha de Marajó.
*
J.A.Fonseca
é economista, aposentado, escritor, conferencista, estudioso de
filosofia esotérica e pesquisador arqueológico, já tendo visitado diversas
regiões do Brasil. É presidente da associação Fraternidade Teúrgica do Sol
em Barra do Garças–MT,
articulista do jornal
eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br)
e
membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA.
- Todas
as imagens:
Ilustrações
de J.A. Fonseca.
- Bibliografia:
- Cerâmica Arqueológica da Amazônia – Denise Maria Cavalcante Gomes,
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002.
- Arte da Cerâmica no Brasil – P. M. Bardi, Banco Sudameris Brasil
S.A., 1980
- Revistas Planeta
- Revistas Superinteressante
- Revista Enciclopédia Bloch
- Produção:
Pepe
Chaves.
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