Forte mau cheiro exala da Estação de Tratamento de Esgoto, comprometendo a saúde dos moradores
Estação de Tratamento de Esgoto do Mapiri
O vereador Henderson Pinto (DEM), em
entrevista à nossa reportagem, denunciou que a Estação de Tratamento de
Esgoto (ETE) do Mapiri, está lançando esgoto sanitário direto no lago do
Papucu.
A denúncia, segundo Henderson, se baseia
em levantamentos feitos por técnicos do próprio bairro que constataram o
fato depois que a estação – que tem capacidade para tratar esgoto de
até 75 mil famílias – entrou em funcionamento parcial e passou a receber
o esgoto dos mais de 3 mil moradores que recentemente ocuparam as casas
do Residencial Salvação, às margens da rodovia Fernando Guilhon.
“O projeto do PAC se arrasta desde 2008 e
a ETE Mapiri foi concluída parcialmente, passando a funcionar somente
no período da noite, ou seja, 12 horas por dia. Com isso, o excedente do
material sai pelo ladrão e é lançado direto no lago Papucu, o que gera
uma grande preocupação, pois não precisa demorar muito para que o lago
esteja todo comprometido”, denunciou.
Por conta disso, segundo Henderson
Pinto, um forte mau cheiro exala da Estação de Tratamento de Esgoto,
comprometendo a saúde dos moradores do bairro, que se queixam de dores
de cabeça, náuseas e enxaquecas. Esses sintomas, de acordo com ele,
seriam causados pela emissão do gás sulfídrico, usado no tratamento de
resíduos pela ETE.
Henderson Pinto disse que o assunto foi
tratado durante reunião realizada pela Associação de Moradores do
Mapiri, na sede da entidade, na última semana, para a qual, o Núcleo de
Gerenciamento de Obras (NGO) e a Cosanpa, apesar de convidados, não
mandaram representantes. Apenas um representante da Secretaria de Estado
de Meio Ambiente (SEMA), que licenciou a obra, esteve presente.
Ele cobrou um posicionamento do diretor
do NGO, Geraldo Bitar, que não designou representante, pois ele queria
prestar os esclarecimentos aos moradores assim que retornasse de uma
viagem. “Hoje esperamos uma definição do diretor Geraldo Bitar, pois a
falta de atenção do NGO serve para aumentar os problemas dos moradores”,
destacou.
Outro Vereador que também denunciou o
fato foi Gerlande Castro (PSDB), que diz que a Estação de Tratamento de
Esgoto (ETE) deveria trabalhar em pleno funcionamento por 24 horas, pois
sem esse serviço, os dejetos são jogados no lago Papucu, levando
poluição e mal estar às pessoas, devido ao mau cheiro que é produzido.
“Precisa-se ter conhecimento técnico e
saber de quem é a responsabilidade desse problema, pois a população não
pode ficar sofrendo com a fedentina que vem do esgoto durante a noite”,
finalizou Gerlande Castro.
ESTUDO BUSCA ALTERNATIVAS PARA RECUPERAR MINERAIS PRESENTES NO ESGOTO SANITÁRIO: Da
próxima vez que você estiver na pia da sua casa lavando louças, ou
tomando banho, ou ainda apertando o botão da descarga, você poderá estar
contribuindo para a poluição dos rios, a qual poderá ser agravada pelos
seus hábitos.
Você já parou para pensar em que tipo de
esgoto você produz? Esgoto é água que, depois de passar pelos usos
industriais, agrícolas ou residenciais – nesse último tipo, como os
provenientes de pias, chuveiros ou descargas -, adquire características
físico-químicas determinadas por hábitos como alimentação, uso de
detergentes, desinfetantes, uso de cosméticos e outros fatores como
clima e disponibilidade de água, além de outros costumes cotidianos.
“O esgoto tem a característica que a
água sofreu depois do seu uso; esse uso pode ocorrer de diversas
maneiras, como, por exemplo, doméstico, industrial etc., e em cada um
desses usos ainda haverá variações. Se a população se alimenta
basicamente de produtos orgânicos – e dependendo do tipo de indústria -,
as características também serão diferenciadas. Essas características
variam muito de local para local e dependem da característica da água”. A
afirmação é da pesquisadora Rose Meira, do Instituto de Ciências e
Tecnologia das Águas (ICTA) da Ufopa, que está desenvolvendo uma
pesquisa que busca alternativas para recuperar minerais presentes no
esgoto sanitário.
O estudo, intitulado “Síntese e
caracterização da estruvitaMgNH4PO46H20 a partir de efluentes sintéticos
combinados com fontes alternativas de reagentes”, executada pela
professora Rose Meira no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Geologia
e Geoquímica (PPGG) da Universidade Federal do Pará (UFPA), é uma
tentativa de ampliar esse tipo de estudo no Brasil, onde é bastante
incipiente.
No geral, essa água que sai da pia, do
chuveiro, da descarga de residências, indústrias e até de hospitais é
composta por elementos como uma série de nutrientes como magnésio (Mg),
nitrogênio (N), fósforo (P), que após tratamento podem precipitar-se e
ser utilizados como ecofertilizantes de liberação lenta. Mas para que
isso ocorra esse esgoto necessita de tratamento, “o que demanda muita
pesquisa”, conclui Meira.
“Nosso objetivo é contribuir para uma
melhor compreensão sobre o processo de síntese de estruvita como técnica
alternativa viável de remoção de nutrientes provenientes de águas
residuais domésticas associadas a fontes alternativas reagentes, nesse
caso, os rejeitos das indústrias minerais da região”, esclarece a Profa.
Rose Meira. A pesquisa vai avaliar efluentes sintéticos em laboratório
para simular as características físico-químicas do esgoto doméstico.
De acordo com a pesquisadora, os estudos
nessa área, no Brasil, ainda são escassos. A primeira tese abordando o
tema foi defendida no ano passado na Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) em parceria com uma universidade espanhola. “Apesar de
possuir um grande potencial de recuperação de nutrientes a partir de
esgoto doméstico, o Brasil ainda apresenta poucos estudos envolvendo a
remoção de nutrientes a partir da síntese de minerais”.
Lembre-se destes números: cada santareno
consome, em média, 150 litros de água por dia. Desse total, 80%, ou
seja, 120 litros viram esgoto doméstico, o que pode resultar num
processo de eutrofização, que é a concentração de matéria orgânica em
ambientes aquáticos.
Mas a conta de consumo per capita não
é exata, afirma Meira. “Em Santarém, como não existem hidrômetros
instalados nas residências, não é possível mensurar o consumo de água e,
a partir deste, o consumo per capita de esgoto”. Esseconsumo
médio de um indivíduo é o consumo efetivo de água multiplicado pelo
coeficiente de retorno, que é de aproximadamente 80%.
Para analisar esse tipo de dado em
Santarém, devem ser adotados valores de pesquisas da região, nesse caso
os dados mais próximos são da cidade de Belém. “Na capital desenvolvi
anteriormente pesquisas de consumo em áreas de bairros consolidados
(onde já existe uma rede coletora de esgotos e rede de abastecimento de
água) da ordem de 207,3 L/hab.dia, e também para áreas informais 154,1
L/hab.dia, em áreas informais ainda não existe nenhuma, ou muito pouca,
infraestrutura de saneamento e também sem hidrômetro, como ocorre aqui
em Santarém”. E completa: “Lá eu instalei os hidrômetros em uma amostra
da população da ocupação Riacho Doce, que está localizada próximo
aocampus da UFPA e medi o consumo deles durante 12 meses para mensurar o
consumo dessa parcela da população, já que não existiam dados de
pesquisas para o consumo de população de baixa renda e de invasões no
Brasil, naquela época”.
Considerando uma média populacional de
300 mil pessoas, na cidade de Santarém são consumidos por dia
aproximadamente 36 milhões de litros de água. A conta é simples, a maior
parte dessa água vira esgoto doméstico e vai direto para o solo
(escoado a céu aberto, empoçado nos quintais ou em tanques sépticos
seguidos de sumidouros) ou para os rios por meio de ligações na
canalização de drenagem pluvial.
“O pós-tratamento para recuperar esses
elementos no esgoto irá contribuir para o que o efluente final do
tratamento apresente excelente qualidade, podendo ser lançado no meio
ambiente sem causar problemas, e além disso pode produzir um material
sintetizado rico em minerais interessantes para a agricultura, como a
estruvita, por exemplo”.
A estruvita foi descoberta em 1846, na
universidade de Hamburgo, na Alemanha, e pelas características
físico-químicas pode ser utilizada como ecofertilizante. “O interesse
científico por essa pesquisa surgiu a partir da constatação de que esse
elemento também é uma importante fonte de fósforo”, esclarece Meira.
O problema do esgoto sanitário é antigo,
mas apenas há pouco tempo os governantes despertaram para a questão. Em
Santarém estão sendo construídas as primeiras duas estações para
tratamento de esgoto (ETE’s). Cada estação vai tratar o esgoto produzido
pelo equivalente a 50 mil pessoas, ou seja, cerca de 30% da população
inicialmente, possuindo capacidade de ampliação para o dobro do
atendimento dentro das mesmas ETE’s. Parece pouco, mas já faz uma
diferença num lugar onde até pouquíssimo tempo nenhum esgoto recebia
tratamento, comemora a pesquisadora. Com informações e foto de Lenne Santos.