quarta-feira, 21 de junho de 2017

A mentira na política




“a mentira política se instalou em nossos povos quase constitucionalmente e o dano moral tem sido incalculável, alcançando zonas muito profundas do nosso ser. Movemo-nos na mentira com naturalidade.” (Octávio Paz)

 A mentira é um componente que faz parte da vida de alguns políticos e, com as raras exceções de sempre, tal conceito já se incorporou na definição que o povo faz de seus representantes, mas que ele mesmo se encarrega de dar-lhes um mandato.
No Brasil, às vezes, um político mentiroso, quase sempre, é um vencedor, pois a mentira bem elaborada, maquiada de verdade e com promessas impossíveis, deixa o candidato em busca de votos com cara de um transformista, desses que fazem shows em boates dublando Madonna ou Liza Minelli.
Nossos políticos sabem que as mentiras na atividade que escolheram têm pernas longas, diferentemente, do que acontece, por exemplo, nos EUA. Lá, um político seria punido pelo eleitorado não porque praticou algo desonesto como, por exemplo, ter uma amante paga por fornecedores do governo, mas se mentisse negando ter uma amante.
Richard Nixon teve que renunciar porque mentiu sobre Watergate, tentou obstruir o trabalho de investigação e negou sua responsabilidade na invasão do edifício Watergate, em Washington.
Mentira de político brasileiro para enganar eleitores é louvada e considerada uma malandragem bem nossa, como aquela malemolência de um Pedro Malasartes, que exige não a postura de um cidadão que busca ser representante do povo por meios ortodoxos, mas por meio de uma representação teatral – ‘fulano pedindo votos é um artista’ – dizem os eleitores reconhecendo o poder de sedução do candidato.
Estabelecido esse link de empatia do político com o eleitor, a mentira torna-se o elemento que credita ao candidato até mesmo a intimidade ‘do tapinha nas costas’ e do tratamento de ‘companheiro’.
O político brasileiro segue a filosofia de vida de Pedro Malasartes, este caminhando sobre um fio de navalha, uma linha imaginária onde ele se equilibra na fronteira da marginalidade com a imunidade parlamentar. Conquistar este privilégio é chegar ao poder que não tem preço, já que o mandato lhe permite usufruir da imunidade dos “incomuns” acrescentando a ela a mesma impunidade que o porco Napoleão estabeleceu como regra na Revolução dos Bichos, na qual George Orwell soube documentar a mentira dos “revolucionários” numa obra ficcional cada vez mais atual.
Nossa política está chafurdada como na fazenda do sr. Jones, o humano derrotado na revolução e que teve a sede da propriedade tomada pelos porcos.
Ghandi dizia que “a verdade é dura como o diamante”. Mas mentira é mole como um toucinho, a matéria-prima dos suínos.