“a mentira política se instalou em nossos povos
quase constitucionalmente e o dano moral tem sido incalculável, alcançando
zonas muito profundas do nosso ser. Movemo-nos na mentira com naturalidade.”
(Octávio Paz)
A
mentira é um componente que faz parte da vida de alguns políticos e, com as
raras exceções de sempre, tal conceito já se incorporou na definição que o povo
faz de seus representantes, mas que ele mesmo se encarrega de dar-lhes um
mandato.
No
Brasil, às vezes, um político mentiroso, quase sempre, é um vencedor, pois a
mentira bem elaborada, maquiada de verdade e com promessas impossíveis, deixa o
candidato em busca de votos com cara de um transformista, desses que fazem
shows em boates dublando Madonna ou Liza Minelli.
Nossos
políticos sabem que as mentiras na atividade que escolheram têm pernas longas,
diferentemente, do que acontece, por exemplo, nos EUA. Lá, um político seria
punido pelo eleitorado não porque praticou algo desonesto como, por exemplo,
ter uma amante paga por fornecedores do governo, mas se mentisse negando ter
uma amante.
Richard
Nixon teve que renunciar porque mentiu sobre Watergate, tentou obstruir o
trabalho de investigação e negou sua responsabilidade na invasão do edifício
Watergate, em Washington.
Mentira
de político brasileiro para enganar eleitores é louvada e considerada uma
malandragem bem nossa, como aquela malemolência de um Pedro Malasartes, que
exige não a postura de um cidadão que busca ser representante do povo por meios
ortodoxos, mas por meio de uma representação teatral – ‘fulano pedindo votos é
um artista’ – dizem os eleitores reconhecendo o poder de sedução do candidato.
Estabelecido
esse link de empatia do político com o eleitor, a mentira torna-se o elemento
que credita ao candidato até mesmo a intimidade ‘do tapinha nas costas’ e do
tratamento de ‘companheiro’.
O
político brasileiro segue a filosofia de vida de Pedro Malasartes, este
caminhando sobre um fio de navalha, uma linha imaginária onde ele se equilibra
na fronteira da marginalidade com a imunidade parlamentar. Conquistar este
privilégio é chegar ao poder que não tem preço, já que o mandato lhe permite
usufruir da imunidade dos “incomuns” acrescentando a ela a mesma impunidade que
o porco Napoleão estabeleceu como regra na Revolução dos Bichos, na qual George
Orwell soube documentar a mentira dos “revolucionários” numa obra ficcional
cada vez mais atual.
Nossa
política está chafurdada como na fazenda do sr. Jones, o humano derrotado na
revolução e que teve a sede da propriedade tomada pelos porcos.
Ghandi
dizia que “a verdade é dura como o diamante”. Mas mentira é mole como um
toucinho, a matéria-prima dos suínos.