Omissão do Estado e burocracia destroem a floresta e matam os homens na Amazônia
Eliane Brum volta à carga e mostra que a inação das autoridades
brasileiras é objetivamente cúmplice dos crimes ambientais e oferece a
cabeça dos denunciantes em uma bandeja de prata aos seus algozes. Um
troço de assustar qualquer um.
Na matéria publicada na revista Época desta semana, vê-se que o
Ministério Público Federal (MPF), tão ativo quando o assunto é combater
Belo Monte (um tema que renda manchetes internacionais), é omisso na
hora de combater o roubo de madeira nobre que sustenta os "bacanas" da
Pauliceia. Vê-se também que o ICM-Bio, que sempre dá as caras para
justificar sua "grande preocupação com a preservação ambiental", punindo
micro e pequenos produtores rurais, afirma que não tem responsabilidade
alguma na solução do caso. Por fim, o que não se vê é saída para o
problema.
A reportagem de Eleiane Brum mostra que pratica-se o jogo mais popular
do Brasil, o "jogo de empurra", no qual as autoridades de diversas
esferas mandam o problema de uma lado para o outro sem solução visível.
A questão da exploração comercial e sustentável da Amazônia é, sem
dúvida, complexa. Mas, está longe de ser insolúvel. Bastaria que Governo
Federal, Estados e Municípios estivessem em sintonia no sentido de
coibir abusos e proteger os elos mais fracos da sociedade amazônida, por
um lado; e em outra vertente, apresentassem um projeto viável de
desenvolvimento para o micro e pequeno produtor rural da Amazônia que
desestimulassem a prática de atividades criminosas.
Dou como exemplo um projeto do Governo do Estado do Pará criando na
gestão da ex-governadora Ana Júlia Carepa (PT) e que o atual governador
Simão Jatene mantém. Trata-se do Pará Rural. Com recursos do Banco
Mundial, dispõe de mais de US$ 100 milhões para financiar projetos de
investimentos produtivos (PIP's) coletivos. Os juros são mínimos e, a
depender do caso, inexistentes. Os prazos são dilatados, podendo chegar a
dez anos para pagar. Tudo parece muito bom, não é?
Não, não é!
A burocracia é tão grande, as exigências são tantas e a falta de costume
do colono amazônida com o crédito coletivo é tão absoluta que, passados
três anos desde a implantação do programa, menos de 15% dos recursos
chegaram realmente nas mãos dos produtores. Para se ter uma ideia, no
anos passado todo, apenas 14 PIP's foram aprovados pelo Pará Rural em
todo o Estado!
Convenhamos, assim fica difícil manter a floresta em pé e os colonos vivos!
Está claro, queridos. O que destrói a floresta não é o fogo ou a
moto-serra. O que mata os lavradores da Amazônia não são as balas dos
pistoleiros.
