POLÍCIA TRANQUILIZA OS MORADORES DA CAPITAL
Autoridades prometem esclarecer morte de PM e de mais nove pessoas
A Secretaria
de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) se reuniu com os
órgãos de sua competência e com agentes das esferas federal e municipal
durante coletiva de imprensa, na manhã de ontem, na sede do Comando da
Polícia Militar, para tranquilizar os moradores da capital paraense,
após a onda de pânico que se instalou em Belém depois do assassinato do
cabo Antônio Marco da Silva Figueiredo, de 43 anos, conhecido como
“Pet”, na noite de anteontem, no bairro do Guamá. Logo depois do crime
contra o policial, mais nove pessoas foram assassinadas em um tempo
curto. Por causa disso, mensagens que circularam pelo aplicativo para
celulares WhatsApp e pelas redes sociais espalharam medo pela cidade.
Luiz Fernandes, titular da Segup,
confirmou que até o final da manhã de ontem 10 pessoas foram
assassinadas e três ficaram feridas. As mortes ocorreram no Guamá (a do
cabo), na Terra Firme (quatro), no Jurunas (duas), no Marco (uma), no
Tapanã (uma) e no Sideral (uma). Não foi informado onde as três pessoas
foram feridas. Fernandes esclareceu que ainda não tem como informar se o
crime contra o policial militar está relacionado aos outros nove
homicídios. “Todas as mortes vão ser investigadas de forma minuciosa.
Seis delas ocorreram com as mesmas características, sempre com o
envolvimento de motoqueiros”, afirmou.
Na noite de anteontem, após o crime
contra o policial militar, mais quatro pessoas foram assassinadas.
Durante a madrugada de ontem, foram contabilizadas outras cinco mortes.
Por volta de meia-noite, Nadson da Costa Araújo, de 18 anos, foi morto
com um tiro na cabeça. Ele estava na rua dos Pariquis, no bairro do
Jurunas, quando foi interceptado por um veículo preto. A família da
vítima desconhece a motivação do crime. O cabo Lauro, que esteve no
local, disse que Nadson foi executado por um bandido conhecido como
“Negreti”.
Marcos Murilo Ferreira Barbosa, 20,
foi assassinado na travessa Mauriti, perto da passagem União, na
Pedreira, também por volta de meia-noite de ontem. A tia dele, que não
quis ser identificada, disse que o sobrinho estava perto da própria casa
quando homens de moto o cercaram e dispararam vários tiros. “Um senhor
viu tudo e ele disse que meu sobrinho chegou a dizer que não tinha nada a
ver, mas eu não sei a que o meu sobrinho estava se referindo”, disse a
tia no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, onde esperava a
liberação do corpo.
Alex dos Santos Viana, de 20 anos,
também foi morto durante a madrugada. Walmir da Fonseca disse que o
filho adotivo estava acompanhado de dois amigos no Sideral, onde morava,
quando vários homens encapuzados e de moto se aproximaram e dispararam
vários tiros. “Ele tinha acabado de sair da arena de futebol lá perto de
casa e estava tomando refrigerante na companhia de mais dois amigos
quando esses homens se aproximaram e fizeram vários disparos. Os amigos
dele conseguiram correr”, disse Walmir. Ele não sabe o que motivou o
assassinato, mas informou que Alex foi apreendido, durante a
adolescência, por porte ilegal de arma.
Daniel Martins Souza dos Santos, de
33 anos, caminhava pela rua Breves, perto da rua dos Mundurucus, no
bairro do Jurunas, quando foi executado por um motoqueiro. Nenhum
parente de Daniel foi ao local, mas moradores da área disseram que ele
era usuário de drogas e fazia pequenos furtos.
Já por volta das 3h de ontem, Marcio
Santos Rodrigues, de 21 anos, foi assassinado com vários tiros
disparados por motoqueiros encapuzados na rua da Olaria, no bairro do
Tapanã.
Secretário fala sobre suposta vingança
Durante a coletiva, as autoridades
foram questionadas sobre a possibilidade de os nove assassinatos serem
uma vingança praticada por colegas de farda do cabo Figueiredo. “Nós não
podemos afirmar isso, estamos investigando o que ocorreu com cada
vítima com muito critério, mas se identificarmos a participação de
qualquer policial militar, ele será investigado e vai responder pelo
ato. Mas a filosofia da Polícia Militar não é essa. Se alguém da
corporação teve esse tipo de atitude, eu não considero um policial”,
disse o secretário Luiz Fernandes.
Daniel Mendes Borges, comandante
geral da Polícia Militar, disse que o sistema de segurança pública prima
pela transparência e tentará esclarecer os crimes o mais rápido
possível. “Independente de quem seja, nós preservamos antes de qualquer
coisa a vida”, destacou.
Rilmar Firmino, delegado geral da
Polícia Civil do Pará, informou que a polícia continua fazendo buscas.
Até a noite de ontem ninguém havia sido preso, mas alguns nomes e
apelidos de supostos criminosos já surgiram. São eles: “Tulio”, “Mauro
Gordo”, “Panturrilha”, “Grandão”, “Dênis Pimentinha” e “Jacura”.
O cabo Figueiredo estava afastado da
PM havia sete anos, por problemas de saúde. Mesmo afastado, ele era
investigado pela corregedoria das polícias Civil e Militar pelo
envolvimento em pelo menos dez homicídios. “Ele estava sendo investigado
pela corregedoria pelo crime de homicídio”, destacou o delegado Rilmar
Firmino.
Estatística - Francisco Xavier,
presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e dos
Bombeiros, disse que a morte do cabo Figueiredo representa o 16º
registro de homicídio de policial militar este ano. “O ‘Pet’ era um
policial exemplar, era muito ativo durante o trabalho na corporação.
Mais uma vez nós perdemos um grande policial”, lamentou Xavier, que
também acompanha de perto as investigações do assassinato. “A polícia
está investigando e nós vamos acompanhar, mas é perigoso afirmar que
policiais estão causando terror na periferia, muita gente está se
aproveitando dessa situação. O papel da polícia é de proteger a
sociedade e o Estado precisa dar suporte”, acrescentou.
Opiniões de moradores do bairro do Guamá estão divididas
O cabo Figueiredo morava havia 28
anos na passagem Monte Sinai, no Guamá, onde foi executado com mais de
dez tiros na noite de anteontem. No local, alguns o conheciam como
“justiceiro”; outros, como integrante de um grupo de extermínio.
Proprietários de pequenos comércios do bairro contam que o PM tinha uma
empresa de instalação de sistemas de segurança. A maioria contratava
serviços dele.
Na manhã de ontem, o clima era de
luto no bairro do Guamá. Luciana Oliveira trabalha há dois anos com a
venda de material de construção e disse que, com a morte do policial,
até pensa em desistir do ramo. “Com ele aqui me sentia mais segura, pois
os bandidos respeitavam. Mas agora estamos vulneráveis e ninguém vai
mais respeitar nada”.
A proprietária de um mercadinho, que
prefere não ser identificada, contratou a empresa do policial para
instalar as câmeras da pequena e disse que também se sente insegura após
o assassinato de “Pet”. “Ele era uma pessoa muito boa aqui, nos
protegia. Aqui no nosso mercado nós contratamos o serviço de instalação
de câmera e com esses recursos nós conseguimos diminuir os assaltos”,
afirmou a comerciante, que fechará o estabelecimento mais cedo a partir
de agora.
A dona de uma mercearia na rua
Augusto Correa acredita que a criminalidade aumentará no Guamá. “Agora
sim eu tenho certeza que o Guamá vai ficar uma desordem e nas mãos dos
bandidos. Quando o ‘Pet’ era vivo a gente se sentia muito mais segura,
mas agora estou com muito medo”.
A preocupação do cabo Figueiredo com
a própria segurança e com a segurança da família era evidente na
residência dele, que era cercada de câmeras de vigilância. Além das três
colocadas na fachada, outras foram instaladas na parte de entrada da
casa.
Admirado por uns, o PM também era
odiado por outros. Na noite do crime, enquanto a polícia vasculhava o
Guamá, fogos de artifício foram disparados em comemoração pela morte do
policial. Uma pequeno rap circulou por meio do aplicativo para celulares
WhatsApp. A letra da música diz o seguinte: “Muita bala só na cara /
Deixaram desfigurada / Todo mundo tá ligado que o Pet era safado /
Matava inocente e botava terror na gente / Vai queimar no fogo ardente,
seu vacilão... (risos) / O Pet vai conhecer o Lúcifer”.
Governo estadual descarta pedir reforço da Força Nacional
Logo após o crime contra o policial
militar, vários boatos, fotos e vídeos tomaram conta do WhatsApp e das
redes sociais. O secretário Luiz Fernandes disse ontem, durante coletiva
na sede do Comando da Polícia Militar, que o Grupo de Monitoramento da
Polícia Civil já está investigando o conteúdo dos boatos e os
responsáveis por eles. “Esse ato de espalhar boato é crime. As pessoas
não podem ser irresponsáveis e implantar terror à sociedade. Os usuários
da internet também precisam fazer a triagem das informações. Caso
tenham dúvida, podem procurar os órgãos oficiais da segurança pública”,
afirmou.
“O nosso principal objetivo nesta
coletiva é passar informações corretas sobre o sistema de segurança
pública do Estado e informar que todos esses crimes já começaram a ser
investigados. Nós temos acompanhado intensamente todas as ações dos
órgãos de segurança, 24 horas por dia e podemos dizer sem medo que a
notícia veiculada nas redes sociais e em alguns meios de imprensa sobre
uma onda de dezenas de assassinatos em Belém não é verídica”,
acrescentou o secretário.
Para garantir a tranquilidade da
população, houve um reforço no contingente de policiais que estão nas
ruas de Belém, especialmente nos bairros onde ocorreram os crimes.
Alepa - A cúpula da Segup
compareceu ontem à Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) para dar
esclarecimentos sobre os assassinatos ocorridos em vários bairros da
capital após o assassinato do cabo Figueiredo. Desde o início da sessão,
vários parlamentares se manifestaram sobre o assunto e cobraram
providências. No encontro, no início da tarde, Luiz Fernandes descartou a
possibilidade de o Pará pedir apoio da Força Nacional.
“Nós não temos nenhum problema de
solicitar o apoio federal quando necessário, não é um demérito, até
porque o Estado foi um dos primeiros a trabalhar com esta integração,
muitas das nossas operações já são em parceria com a Polícia Federal,
por exemplo. Mas neste caso, não vejo motivo para isso, até porque
outros Estados podem estar precisando mais. E não vamos pedir se não
houver necessidade”, afirmou Fernandes.
O pedido para que o Estado peça o
reforço da Força Nacional foi oficializado pelo deputado Carlos Bordalo
(PT), que também solicitou que o Executivo envie ao Legislativo as
ordens de serviço de todos os policiais militares, especificamente
aqueles lotados na Ronda Tática Metropolitana (Rotam) que estavam em
serviço nos dias 4 e 5.
Durante a reunião, o secretário
explicou que desde que o grupo de diagnóstico e monitoramento da Segup
constatou a ocorrência dos assassinatos em Belém, a polícia vem tomando
todas as medidas para garantir a segurança da população. Como, por
exemplo, a instalação do Gabinete Integrado de Gerenciamento e
Negociação, no Centro Integrado de Operações (Ciop), para monitorar o
caso, reforço no policiamento nas ruas, principalmente nos bairros onde
os crimes ocorreram e até mesmo investigação para apurar a origem dos
boatos que se proliferaram pelas redes sociais e que contribuíram para
disseminar o pânico entre as pessoas. “A população não tem com que se
preocupar. Nós estamos acompanhando o caso e garantindo a segurança”,
afirmou Luiz Fernandes.