Pacientes usam sombrinhas dentro do Posto de Saúde e usuários do SUS protestam na Semsa
No início desta semana centenas de
pessoas procuraram nossa reportagem para denunciar o descaso na saúde
pública de Santarém. Entre os problemas apontados pela população está o
abandono das unidades de saúde do Santarenzinho, Maracanã, Conquista,
Matinha, Nova República, Livramento e Aparecida/ Caranazal.
Nos referidos postos de saúde, segundo
os usuários, faltam médicos, enfermeiros e remédios, além da demora nos
exames. Sem ter pra quem apelar, os usuários pedem que o Ministério
Público Estadual (MPE) fiscalize onde está sendo aplicada a verba de
saúde, liberada pelo Governo Federal e destinada as unidades de saúde de
Santarém.
A falta de remédios e a demora nos
exames estão entre as reclamações feitas por usuários do posto de saúde
do Livramento. Segundo eles, o atendimento é precário e o prédio não
possui nem água para consumo.
A aposentada Raimunda Silva foi ao posto
em busca de remédios para o tratamento de hipertensão. Ela conta que
procurou a unidade por três vezes consecutivas e não conseguiu o
medicamento. “Não me atenderam. Tinha remédio, mas não me deram porque
eu não era do grupão. Passei de oito até dez horas e não fui atendida”,
reclama.
De acordo com os usuários, o bebedouro
do posto está parado e segundo os moradores não há água para beber. “Fui
ao posto e não tem nem água para a pessoa tomar uma pílula. Está lá o
bebedouro, seco, sem água. Ainda fui procurar quando a mulher me disse
que não tinha água”, cobra a aposentada.
No bairro da Conquista, os usuários da unidade de saúde também reclamam da demora no atendimento e falta de remédios no local.
O representante comercial Roberto Lima
precisa de remédios para a filha de 6 anos, portadora de necessidades
especiais. Medicação controlada para evitar convulsões. Porém, segundo
ele, a unidade não possui o medicamento no momento. “Eles informaram que
não tem a medicação, que está em falta porque a Secretaria de Saúde não
repassou. Eles estão fornecendo a receita para que eu possa comprar,
mas tem crianças que o pai não pode comprar. Já aconteceu de ter redução
aqui nos remédios, em outra vez passaram a receita e agora de novo”,
explica.
DESAMPARO: Nos bairros
Aparecida e Caranazal, devido as fortes chuvas que caíram na cidade nos
últimos dias, vários pontos de infiltração surgiram na Unidade de Básica
Saúde (UBS), localizada na Avenida Magalhães Barata (Rodagem). Os
usuários denunciam que em dias de chuva são obrigados a usar
guarda-chuva, dentro da unidade para se proteger da água que cai pelas
goteiras no telhado. A água da chuva se espalhava por todas as salas, em
consequência das telhas quebradas.
Segundo a agricultora Naiara Sousa, a
situação é preocupante e gera incômodo, pois a água invade as salas e é
necessário se proteger. “Eu não tenho nem palavras. É muito triste essa
situação. Fui ao posto médico e tive que usar o guarda-chuva no corredor
para não me molhar. Deixei de usar o guarda-chuva na rua, para usar
dentro da unidade de saúde. Eu vou ao posto todos os meses levar meu
filho para tomar vacina”, criticou a agricultora.
Os moradores do bairro estão
insatisfeitos com as péssimas condições em que se encontra a estrutura
da unidade. Segundo eles, o prédio necessita urgente de uma reforma.
Quem precisa dos serviços, sofre as consequências do descaso. “Uma vez
que fui fazer um preventivo eu vi muito cupim na parede, a tinta saindo.
O atendimento também é preocupante, pois temos que chegar muito cedo
para conseguir atendimento, o médico demora a chegar, muito difícil
conseguir uma ficha”, diz a dona de casa, Fernanda Almeida.
Além de não oferecer itens básicos, como
cadeiras para que as pessoas aguardem o atendimento, a cerâmica no chão
oferece riscos, principalmente paras os idosos. A pintura é antiga, as
portas estão danificadas e algumas sem fechaduras. As paredes estão
tomadas pelo mofo e os móveis danificados.
“BUZINAÇO” COBRA MELHORIAS NA SAÚDE PÚBLICA DE SANTARÉM: Em
protesto realizado por volta de 09h, de quinta-feira, 07, na Travessa 7
de Setembro, no bairro Santa Clara, em Santarém, servidores da
Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) e usuários do Sistema Único de
Saúde (SUS) cobraram melhorias do atendimento, nos hospitais e nas
unidades de saúde, da cidade.
Portando faixas, cartazes e com auxílio
de um carro som, os manifestantes reivindicaram mais atenção por parte
dos governos municipal, estadual e federal ao SUS. Em um cartaz, os
manifestantes expressaram a seguinte revolta: “Lute para salvar o SUS.
Não deixe o SUS morrer!”
A concentração dos manifestantes
aconteceu em frente à sede da Semsa, na Travessa 7 de Setembro, onde
dezenas de pessoas em carros e motocicletas realizaram um “buzinaço”. No
local, por alguns minutos o trânsito foi interrompido. Em seguida,
funcionários da Semsa e usuários do SUS caminharam até a Prefeitura
Municipal de Santarém, na Rua Anysio Chaves, onde fizeram um ato
público.
Entre as principais queixas de usuários
do SUS estão: dificuldades de acesso aos serviços de saúde e de um
atendimento que não contempla as reais necessidades dos pacientes; falta
de remédios nas unidades de saúde, falta de médicos e enfermeiros nos
hospitais, além da superlotação no complexo do Hospital Municipal de
Santarém (HMS) e Pronto Socorro Municipal (PSM).
Em entrevista à imprensa de Santarém, o
presidente do Conselho Municipal de Saúde (CMS), médico Júnior Aguiar,
revelou que a saúde pública em Santarém passa por um momento complicado,
sendo uma dificuldade maior que envolve as esferas estadual e nacional.
“Em se tratando de Santarém, a gente entende que esse é um município
que enfrenta dificuldade a começar pela distância que se encontra em
relação a capital do Estado. Tem sua complexidade regional e, é polo
para uma região muito grande tanto geograficamente quanto do ponto de
vista da densidade populacional. Então os problemas não são só
municipais, são regionais também”, revela o médico.
Segundo o Sindicato dos Médicos do Pará
(SINDMEPA), os médicos e pacientes do Hospital Municipal de Santarém têm
sofrido com o descaso da saúde pública no Município. O SIMDMEPA
denuncia a superlotação do HMS, que tem ocasionado sérios problemas no
local.
Os médicos revelam que, em uma das alas
que atende pacientes graves com capacidade para acomodar até seis
enfermos encontram-se 15 pessoas amontoadas em macas, uma ao lado da
outra. De acordo com os médicos, pacientes têm morrido nesta sala, pois
não há respirador para todos os que estão internados nesta sala.
Outro problema vivenciado pelos médicos
que trabalham no Hospital Municipal de Santarém é a falta de vínculo
trabalhista. O SINDMEPA informou que cerca de 90% dos profissionais da
medicina que trabalham no local são contratados como pessoa jurídica que
acaba não gerando vínculo algum com o hospital e causando grande
instabilidade para os médicos e problemas para a gestão.
O SINDMEPA acrescenta que o contrato
feito aos médicos do Hospital Municipal de Santarém claramente burla os
direitos trabalhistas destes profissionais, fazendo com que eles não
tenham direito à férias, 13º salário, licença maternidade, entre outros.
Por: Manoel Cardoso/Impacto/Blog do Colares