Médico diz que famílias não podem jogar doentes mentais nas ruas
Ele está há muito tempo fora dos
noticiários, nem por isso se esquiva das perguntas nem das especulações
de que seria candidato a vice-Prefeito em alguma chapa ou mesmo
concorrente ao cargo majoritário, ou candidato a Vereador. O médico
Júlio César Imbiriba de Castro fala de punições a erros médicos, através
do Conselho Regional de Medicina e da Justiça comum, também lembra suas
vivências em plantões ‘dele para ele mesmo’. O médico fala de política,
e enfatiza: “Agora vou me dedicar à saúde mental do Município, às
minhas pinturas, em breve vou fazer uma exposição de meus quadros”. E
foi em meio a suas pinturas, na maioria com temas regionais, que ele
concedeu esta entrevista exclusiva ao jornal O Impacto. Confira:
Jornal O Impacto: Como o senhor
analisa a atuação de um médico como o Dr. Nélio Aguiar na política
municipal, candidato a Prefeito?
Júlio César: O cenário
político, seja nacional, estadual ou municipal, deve ter participação de
todos, independentemente da profissão que a pessoa esteja exercendo.
Todos podem e devem contribuir para o sucesso de uma boa administração.
Dr. Nélio Aguiar é um colega nosso, simpaticíssimo, certamente tem bons
propósitos, grandes planos para Santarém e eu vejo com muita satisfação a
participação dele no processo.
Jornal O Impacto: O senhor acredita que ele não vá se corromper na política?
Julio Cesar: Isso eu
não sei, é difícil responder! Eu acredito que não. Na minha opinião,
parece ser um indivíduo probo, sério e bem intencionado, como é também o
Alexandre Von, colega nosso, amizade familiar, também um cidadão que
merece crédito, merece apoio. Acredito que vá ser uma disputa muito boa.
Jornal O Impacto: Por que o senhor não se candidatou a Prefeito nem a Vereador nestas eleições? O Povo não quis?
Julio Cesar: Nada
disso. A verdade é a seguinte: eu já fui Vereador em dois mandatos, como
todos recordam; já fui Secretário de Saúde; hoje sou Coordenador
Municipal de Saúde Mental, psiquiatra. Eu vejo que todos podem e devem
contribuir, estou fazendo a minha parte na área de saúde, que é
importante também. Eu já dei minha contribuição, fui oito anos
legislador (Vereador). Eu acho que já fiz minha participação, dei minha
contribuição na área política. Agora estou de cabeça voltada com todo
ardor e dedicação para a organização da saúde mental no município de
Santarém, que é imensamente grande.
Jornal O Impacto: Como o senhor
conceitua o tratamento do doente mental no Município, que muitas das
vezes está nas ruas, atacando e sendo atacado pelas pessoas?
Julio Cesar: Tratamento
existe, muitos dos quais excelentes, bons resultados clínicos. O
problema todo ainda é a falta de estrutura, falta maior empenho do
governo no sentido de criar uma estrutura mais eficiente no tratamento
desses pacientes, mas Graças a Deus ultimamente tem melhorado bastante.
Estou muito entusiasmado com os últimos progressos na área de tratamento
de saúde mental. Nós temos o CAPS AD, que é uma referência, onde nós
tratamos o dependente de álcool e drogas. Temos o CAPS 2, que é antigo,
trabalho lá há mais de onze anos. Ainda hoje estive tratando com o
senhor secretário de saúde, Dr. Sinimbú, as últimas providências para
inaugurar em breve a nossa enfermaria psiquiátrica, no Hospital
Municipal, muito bem planejada, estruturada, e temos alguns psiquiatras
que juntamente comigo formam uma equipe. Mas os desafios são grandes.
Estamos planejando dar um treinamento pelo menos básico, para que o
médico que atende nos postos da periferia, possa ter uma formação mínima
necessária para atender o paciente em seu bairro.
Jornal O Impacto: O senhor acredita que a família ainda está jogando nas ruas o parente que é doente mental?
Julio Cesar: Isso é um
grande e imenso problema. É difícil a convivência com um paciente
psicopata crônico, que entra em surto, causa problemas sérios
dentro de sua casa. É preciso que a gente também estenda essa atenção
para os familiares que vão conviver com esse lado tumultuado da doença.
Jornal O Impacto: Nessas condições, a família acha mais fácil, então, jogar a séria responsabilidade para o médico?
Julio Cesar: É projeto
nosso fazer um treinamento, capacitação de pessoas ligadas na área
circunvizinha nos devidos bairros, para ajudar a desenvolver esse
tratamento domiciliar, que é uma continuação do tratamento ambulatorial,
e às vezes até hospitalar. Esse é o lado mais desafiador do nosso
trabalho.
Jornal O Impacto: Na época em
que o senhor estava no Hospital Municipal, passava plantão seu para o
senhor mesmo. Essa situação mudou para os médicos hoje, ou continua na
mesma?
Julio Cesar: Isso é
verdade, eu dobrava plantão! Agora não, hoje nós temos uma faculdade de
Medicina que nos deu oportunidade de vários acadêmicos e médicos na fase
de treinamento final. Então, eles estão dando uma colaboração
valiosíssima, muito enriquecida para eles em conhecimento como também é
para nós, porque alivia um pouco a nossa responsabilidade, e hoje nós
dividimos o trabalho.
Jornal O Impacto: Erro médico,
infelizmente hoje tão frequente; em sua opinião, deve ser punido pela
Justiça comum ou através de um Conselho de Ética da Medicina?
Julio Cesar: Depende, é
lógico, da situação. Em meu entendimento, quando o erro médico passa a
ter responsabilidade dolosa, porque o sujeito fez por que quis, etc, tem
outro foco. Quando é um acidente profissional, deve-se adotar uma outra
visão. De formas que cada caso é um caso, mas é uma situação bem
difícil. O nosso trabalho profissional é avaliado pelo Conselho Regional
de Medicina.
Jornal O Impacto: O Conselho Regional de Medicina funciona?
Julio Cesar: Claro,
funciona e muito. O Conselho está sempre atento a qualquer deslize; e
qualquer possível erro do médico é apurado, feito sindicância. Lá é
julgado e encaminhado para as instâncias da Justiça que necessariamente
deverão ser envolvidas.
Jornal O Impacto: Na sua
opinião, ainda existe médico que se forma e não atende pacientes pobres,
só a elite, os que pagam? Ou isso não existe mais?
Julio Cesar: Essa é uma
pergunta muito interessante. Eu acho que isso não existe, a gente
observa nossos colegas, todos são dedicados e normalmente atendem a
todos que os procuram. Agora, é lógico que tem médicos que possuem
alguma preferência. Eu pelo menos tenho meu consultório onde são
cobrados meus honorários, mas 90 por cento das minhas atividades são na
rede pública. Então, isso é uma questão pessoal do médico. Às vezes
existem tropeços, colegas passam uma medicação que não atende a
aspiração do doente, os familiares reclamam. Isso acontece em qualquer
profissão.
Por: Carlos Cruz
Fonte: RG 15/O Impacto