quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Os (des)caminhos da educação no Brasil

Artigo de Tácia Fernanda Sousa Pires, bacharel em direito pela UFPA


Tácia Pires, bacharel em Direito
Tácia Pires, bacharel em Direito
É notório que a educação que recebemos no Brasil deixa a desejar em muitos aspectos. Desde os incentivos a professores e alunos até o total descaso com a estrutura das escolas para recebê-los, temos um rol de obstáculos a superar.  Dificuldades essas que docentes e discentes assumem o papel de resolverem por conta própria, já que não podem esperar pela boa vontade de governantes em oferecer espaços e condições dignas para o aprendizado de seu povo.
No dia 22 de setembro deste ano o governo apresentou Medida Provisória sobre a reforma do ensino médio. A MP 746/2016 propõe alterações curriculares e de funcionamento do ensino médio e deve ser aprovada no Senado e na Câmara no prazo de 120 dias para não perder seus efeitos. Até o final da última quinta-feira (29) foram apresentadas mais de 500 emendas por deputados e senadores.
Em linhas gerais, a MP da reforma do ensino médio permite uma flexibilização do ensino médio onde os alunos possam “escolher” o que querem estudar de acordo com suas preferências pessoais. A medida também prevê a implantação de escolas de ensino médio em tempo integral, elevando a atual carga horária de 800 horas para 1.400 horas. E por fim, não menos grave, torna facultativo o ensino de arte, educação física, filosofia e sociologia.
Entendemos que precisamos de uma reforma na educação, porém, uma mudança que favoreça a qualidade da educação. Não se pode propor uma mudança desta magnitude através de uma MP que limita o tempo para aprovação e, com isso, de avaliação das propostas impostas. Uma forma autoritária de mudança que influencia diretamente em toda a população.
A proposta de facultar o ensino de disciplinas fundamentais para a formação do cidadão é no mínimo indecorosa, contraditória e uma afronta à sociedade. Não é a toa que somos conhecidos como o “país da contradição”. Exatamente um mês após sediar os jogos olímpicos e paraolímpicos o país do futebol tira a educação física da grade curricular de seus alunos. Disciplinas que deveriam ganhar incentivo por serem responsáveis pela mudança da realidade de crianças e jovens em todo o país agora serão facultadas.
Devemos considerar também que, se aprovada, a MP só prevê a obrigatoriedade das disciplinas de português e matemática, o que traz um empobrecimento cultural e educacional dos alunos pela relativização das demais disciplinas. Além do fato de que professores dessas áreas “optativas” teriam sua carreira desvalorizada, enquanto que a demanda por profissionais da área obrigatória seria abrangida. O que faria com que os profissionais tivessem que atuar em áreas diferentes da sua formação principal.
Não se pode permitir um retrocesso na educação brasileira com base em um ato autoritário que não considera a opinião dos estudantes, professores e suas entidades representativas, principais afetados pela reforma e que, mais do que qualquer um, sabem a realidade a que são submetidos. Lutemos por uma educação de qualidade, mas não permitamo-nos ser encabrestados. Que tenhamos uma educação que nos permita conhecer tudo aquilo de que necessitamos para a formação de nossas próprias opiniões. Educar não é limitar. Educar é abranger.
Fonte: RG 15/O Impacto