sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Entre asfixiados e decapitados, confronto de facções no presídio de Altamira deixa 62 mortos

Caos, Crueldade e Barbárie… São muitos os adjetivos para definir o que aconteceu em Altamira na segunda-feira, dia 29 de julho, quando detentos do Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRAlt) iniciaram uma rebelião.
Segundo a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), tudo começou por volta das 7h, no momento da destranca para a primeira refeição do dia. Os internos do bloco A – integrantes do Comando Classe A (o CCA) – invadiram o anexo de um grupo rival – Comando Vermelho (CV). Após a invasão por parte do CCA, o anexo com detentos do CV foi trancado, posteriormente colocando fogo. A fumaça invadiu o anexo, ocasionando a morte de pessoas por asfixia, sendo outros assassinados depois e até mesmo decapitados.
Ao todo, 62 detentos foram assassinados, sendo 46 asfixiados, 16 decapitados e até mesmo agentes penitenciários feitos de reféns. Todos mortos são detentos, os agentes penitenciários feitos de reféns foram logo libertados. A remoção de todos os corpos demorou bastante devido à unidade ser parte de um contêiner e as dependências estar com alta temperatura por conta do incêndio causado pelos internos.
Um grupo de membros da Segurança Pública do Pará viajou para Altamira, onde acompanhou o caso de perto. De acordo com a Susipe, o Centro de Recuperação Regional de Altamira tem capacidade para 200 detentos, mas era ocupado por 311 presos – o que ainda não configura superlotação.
Foi solicitado pelo governo do Estado ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o deslocamento de pelo menos 40 integrantes da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP), do Departamento Penitenciário Nacional, para atuação operacional no Estado.
Os 16 detentos apontados como líderes do confronto foram encaminhados para outra penitenciária. Da capital, 10 irão para presídios federais e os outros seis serão realocados em presídios do Estado.
UMA DAS VÍTIMAS É DE SANTARÉM: Entre os 62 mortos está Edson Costa de Macêdo, conhecido vulgarmente como “Poroca”, de 37 anos, um dos suspeitos de ter atirado e matado o Agente da Fasepa Derlisson Silva, fato ocorrido no dia 24 de abril deste ano, em Santarém. Ele estava preso na casa penal desde 16 de junho deste ano.
De acordo com a Polícia Civil, Poroca fazia parte do Comando Vermelho e foi contratado para executar o agente da Fasepa. Rafael do Carmo Pereira, o “Cadáver”, e Paulo Cesar Guimarães, “Vela”, ligados à facção criminosa Comando Vermelho.
De dentro do presídio, Rafael e “Vela” deram a ordem para que um preso em Santarém matasse o agente, pois Derlison também já foi agente penitenciário. O interno, então, repassou a ordem para outras duas pessoas cometerem a execução no dia 24 de abril. Essa dupla foi presa na operação, sendo que a prisão do atirador (Poroca) ocorreu em Altamira no dia 16 de junho, por roubo.
A equipe da Delegacia de Homicídios da Seccional de Polícia Civil de Santarém aguardará posicionamento oficial para tomar as providências cabíveis.
REFORÇO NO CUCURUNÃ: Após a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) confirmar 58 mortes no confronto entre facções que tomou conta do Centro de Recuperação Regional de Altamira (CRRAlt), O Impacto apurou que a segurança no Centro de Recuperação Silvio Hall de Moura (CRASHM), em Santarém, está sendo reforçada para evitar que algo como o que aconteceu em Altamira não se repita por aqui.
Segundo apurou O Impacto, além do reforço da Guarda da PM, estão em alerta os militares do Comando Independente de Missões Especiais (2ª CIME).
ESTADO AMPLIA NÚMERO DE AGENTES PENITENCIÁRIOS: O Governo do Pará dará posse a 485 agentes aprovados no último concurso da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) no próximo sábado, dia 3. A ampliação do número de agentes penitenciários integra as ações imediatas destinadas a melhorar a gestão e a segurança nos presídios estaduais, determinadas pelo Executivo após tudo o que aconteceu em Altamira.
O governador também solicitou ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o deslocamento de pelo menos 40 integrantes da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP), do Departamento Penitenciário Nacional, para atuação operacional no Estado, diante do ocorrido no presídio de Altamira.
ASSASSINATO NO MEIO DA TRANSFERÊNCIA DE PRESOS: Durante a transferência dos presos envolvidos na chacina em Altamira, quatro foram encontrados mortos com sinais de asfixia. De acordo a Susipe, os corpos foram encontrados quando o caminhão chegou a Marabá, sendo que nenhuma anormalidade foi percebida durante a viagem. O caminhão-cela transportava 30 presos, sendo que os caminhões-cela têm capacidade para 20 presos.
O delegado geral da Polícia Civil do Pará, Alberto Teixeira, está em Marabá para ouvir o depoimento dos 26 presos que estavam dentro do caminhão-cela no momento das mortes dos presos. Ele busca saber como foi possível uma briga entre detentos, sendo que todos estavam algemados.