
Em pleno
ano eleitoral, faltando apenas quatro meses para as eleições, o
governador Simão Jatene encaminhou para a Assembleia Legislativa do Pará
(Alepa), no apagar das luzes do semestre legislativo, projetos que
criam mais despesas e, principalmente, novos cargos de assessoramento em
vários órgãos da administração pública. Essa medida vai de encontro ao
discurso de contenção de gastos e manutenção e equilíbrio financeiro do
Estado apregoado pelo governador nos últimos meses.
Serão criados
mais de 100 cargos comissionados (DAS) em vários órgãos, o que
representará cerca de R$ 500 mil a mais em gastos mensais. O último
decreto de contenção de despesas publicado pelo governador saiu no dia
01 de fevereiro passado no Diário Oficial do Estado. O decreto suspende a
contratação de temporários, nomeações para cargos comissionados e
assemelhados com efeito retroativo, criação de cargos, empregos ou
funções, além de vetar reestruturação de órgãos e entidades que
impliquem em aumento de despesas.
O Projeto de
Lei Ordinária 138/2018, do Executivo, com mais de 400 páginas, chegou à
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alepa no último dia 20 e os
deputados só puderam acessá-lo dia 26 passado, véspera da reunião na
comissão, na quarta-feira (27), que ia discutir a matéria que “cria,
acresce quantitativo, altera atribuições e requisitos de cargos nos
quadros de pessoal em 11 órgãos da administração pública com vistas à
substituição de servidores temporários por concursados conforme Termo de
Ajuste de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público do Estado”.
Ocorre que o PL
também cria, ao mesmo tempo, 44 cargos de DAS nas secretarias de
Planejamento (Seplan) e Administração (Sead) e muda a nomenclatura das
Casas Civil e Militar e dos seis Centros Regionais, que passam a ter
status de Secretarias de Estado; transformando os chefes dessas unidades
secretários. O total é de R$ 286 a mais ao mês em gastos para o
governo.
O deputado José
Scaff (MDB) critica o fato de que o PL detalha como ficará a estrutura
de cada órgão com a minirreforma administrativa proposta por Simão
Jatene, mas não traz o impacto orçamentário com o gasto de pessoal tendo
como base a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). “Isso é muito
importante tendo em vista que já sabemos que as despesas com pessoal
estão em 44,90% acima do limite de alerta que é de 43,74%”. Ele lembra
que o governador criou uma prática de enviar projetos de seu interesse
para a Alepa no afogadilho “para serem aprovados na marra, quase sem
tempo para discussão na Comissão de Justiça da casa”.
PROCURADORIA
Já Projeto de Lei Ordinária nº 118/2018 dispõe sobre a reestruturação do quadro de Apoio da Procuradoria Geral do Estado (PGE), cria uma gratificação de desempenho para os servidores do quadro de apoio mas deixa de fora 55 servidores do chamado “quadro em extinção”, gerando grande revolta entre os funcionários no órgão.
Já Projeto de Lei Ordinária nº 118/2018 dispõe sobre a reestruturação do quadro de Apoio da Procuradoria Geral do Estado (PGE), cria uma gratificação de desempenho para os servidores do quadro de apoio mas deixa de fora 55 servidores do chamado “quadro em extinção”, gerando grande revolta entre os funcionários no órgão.
O PL cria ainda
30 cargos de DAS, que terão um custo mensal de cerca de R$ 110 mil para
os cofres públicos e que vai de encontro ao decreto do próprio governo
que proíbe a contratação de servidores temporários e a criação de novos
cargos. Outra falha do PL 118 é de novamente não trazer em seu bojo o
impacto orçamentário-financeiro para os 2 anos subsequentes nem a
apuração do limite legal no que diz respeito ao gasto de pessoal de
acordo com a LFR.
Deputado critica mudanças em final de mandato
José Scaff,
membro da CCJ, por onde os projetos tramitam, critica a pressa do
governo em aprovar as matérias. “A partir do dia 7 de julho, pela Lei
Eleitoral é terminantemente proibida a criação, contratação e demissão
de servidores públicos. Por isso a pressa do governador em aprovar esses
projetos antes dessa data”, observa. Os projetos devem ser novamente
pautados na comissão na próxima terça-feira (3).
Além dos 30
cargos criados na PGE, mais os 50 criados na Sead, Seplan e centros
regionais; o governo conseguiu aprovar em maio passado reestruturação na
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) que
modificou a política ambiental do Estado, também com a criação de mais
28 DAS (R$ 100 mil mensais), totalizando 108 novos cargos de nomeação
pelo governo.
Jatene fez uma
primeira reforma administrativa em 2015, extinguindo secretarias
especiais, fundindo órgãos da área da Promoção Social, entre outras
medidas. “Em seguida publicou vários decretos de contingenciamento de
despesas e contenção de gastos com o discurso de que precisa reduzir
despesas, mas os projetos de reestruturação que o próprio Executivo
encaminhou esse semestre derrubam esse discurso falacioso, para inglês
ver”, critica o deputado Scaff.
Agora, diz o
deputado, no apagar das luzes, Jatene propõe uma nova reforma que não
cria apenas DAS, mas cria a acresce cerca de 1.000 cargos em 11 órgãos.
“Estamos falando aqui apenas dos cargos de DAS. Ainda existem outras
centenas de cargos que estão sendo criados nas estruturas dos órgãos”.
RESULTADO
Esse tipo de
reestruturação, aponta o parlamentar, deveria ser feito pelo próximo
governador. “O governador muda a estrutura do Estado pela segunda vez
nessa gestão e não vemos o retorno dessas mudanças em benefícios para a
sociedade”, pondera. Ele ressalta ainda que no meio dos projetos
encaminhados pelo governo à Alepa “são incluídas situações que
beneficiam exclusivamente o governador e seus aliados como criação de
cargos comissionados”.
Manobra da base aliada atrasa votação da LDO na Alepa
O deputado
Scaff condena ainda o fato do governador obrigar os deputados a
trabalharem semana que vem, no recesso de julho, para aprovar projetos
de seu interesse. Ele diz que intencionalmente a base aliada não colocou
a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para votação porque senão
encerraria o período legislativo e começaria imediatamente o recesso.
RECESSO
“Primeiro
querem aprovar esses projetos apresentados em cima da hora criando esses
cargos para só aí votarem a LDO. Não sou contra trabalhar em julho, mas
se é para trabalharmos por que não acabamos com o recesso e trabalhamos
o mês inteiro, votamos e avaliamos os projetos como deve ser? Agora vir
apenas um dia de julho para votar projetos do governo é um absurdo e
desmoraliza ainda mais o nosso legislativo”, questiona.Scaff diz que a
base do governador força o trabalho no recesso não para mostrar
produtividade na casa, mas para fazer a vontade do governador. “Isso
desgasta não apenas esses deputados que apoiam o governo mas,
principalmente, o presidente da casa que aceita se submeter a essas
imposições”, critica.