Josias de Souza

Nesta terça-feira, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) foi ao gabinete de Renan para expressar suas inquietações com a tramitação do chamado ajuste fiscal do governo. Encerrada a conversa, Renan fez pose diante dos refletores: “Lembrei ao ministro que o que o Congresso tem buscado é a qualidade do ajuste. Estamos preocupados com o ‘como’, não com o ‘quanto’. Um ajuste fiscal tem que cortar no Estado, tem que fazer a reforma do Estado.”
Renan deu, por assim dizer, uma pedalada na panelaçofobia de Dilma. “Esse ajuste não é fiscal, é trabalhista”, disse o senador, tirando mais uma casquinha da impopularidade da ex-aliada. “A presidente não pode fazer isso. Se fizer, vai continuar não tendo condições de falar” em rede nacional de rádio e tevê no 1º de Maio, Dia do Trabalho. Debilitado, o governo suaviza seu pacote no Congresso. E o trabalhador fica com a sensação de que deve algo a Renan.
A política é feita de poses. Mas Renan exagera. Desde que foi incluído na lista de investigados da Lava Jato, o presidente do Senado tornou-se uma sucessão de poses. Renan vinha fazendo poses genéricas para a rua. Dilma deu-lhe a oportunidade de refinar o foco. Ele agora faz pose para os trabalhadores ao acordar, ao escovar os dentes, ao pentear o cabelo implantado, ao tomar café da manhã. Brasília nunca esteve tão surreal. Uma presidente do PT oferece matéria-prima para que um suspeito da Lava Jato faça pose de baluarte da classe trabalhadora.